terça-feira, 25 de janeiro de 2011

FORMAÇÃO OU INFORMAÇÃO?

RESENHA DO LIVRO:

LIBANIO, João Batista. A arte de formar-se. São Paulo: Loyola, 2002. 4ª ed. 127 p.

João Batista Libânio é Professor de Teologia Fundamental na Faculdade de Teologia do Centro de Estudos Superiores da Companhia de Jesus e consultor Pastoral da Arquidiocese de Belo Horizonte, escreve um livro tratando do processo educativo numa perspectiva de aprendizado constante, numa visão crítica e inteligente, em oposição a acúmulos de informação e conhecimento.

Seu livro é dividido em cinco capítulos. Sendo que, no primeiro capítulo o autor apresenta a importância de aprender a conhecer e a pensar.

Para conhecer é preciso antes de tudo saber relacionar e contextualizar o conhecimento dentro de uma complexidade. Assim, elimina-se a idéia do saber especializado, busca-se adquirir uma visão ampla e globalizada do mundo, desenvolvendo um pensar polidisciplinar e não fragmentado.

Segundo Libânio, “o segredo da arte de pensar é fazer-se perguntas”. Contudo, para desenvolver o pensar não podemos apoiar em respostas prontas, mas fazer novas perguntas para cada resposta encontrada. Através destes questionamentos quebramos paradigmas e nos dispomos a uma relação com a totalidade dos seres.

Outro ponto importante é aprender a pensar lendo os pensadores. Através das obras literárias de diversos gêneros, conhecemos grandes idéias e criamos novas a partir delas. Assim, entramos num mundo de incertezas e de verdades subjetivas em que, nem mesmo o que já fora analisado e comprovado cientificamente fica isento de questionamentos e mudanças.

No capítulo dois o autor nos mostra que não basta aprender a pensar e a conhecer, é preciso aprender a fazer. Para isso, torna-se necessário uma reflexão do passado com responsabilidade para o futuro. Se não atentarmos para a consciência histórica, cometeremos no presente os mesmo erros do passado.

Nosso pensar e conhecer precisa caminhar junto com a prática. Não há práxis sem teoria e não pode haver teoria sem práxis. E esse “fazer” precisa de significado, sentido. Do contrário, corremos o risco de nos tornarmos robôs que agem mecanicamente, sem contudo, compreender a prática.

No terceiro capítulo Libânio trata da importância da tolerância para aprender a viver junto e com os outros.

Estamos numa sociedade individualista em que os relacionamentos são construídos e mantidos somente com pessoas que se identificam entre si. Dessa forma, criam-se comunidades de afins que não possibilitam o diálogo com o que é diferente. Não podemos chamar este ato de tolerância. Tolerar é respeitar as diferenças, sem relativisá-las ou agir com indiferença. Não é afastando dos problemas que conseguiremos resolvê-los, mas é no meio deles, num diálogo, em que não descartamos nossa opinião e nem a do outro. Nessa relação com o diferente, não pode existir maior ou menor, mas sim pessoas iguais com pensamentos e valores diferentes. O importante não é ressaltar as diferenças que nos afastam, mas valorizar aquilo que nos une. É preciso quebrar o individualismo do mundo moderno e aprender a relacionar com o outro para um crescimento mútuo.

No capítulo quatro o autor enfatiza a necessidade de aprender a ser em vez de ter.

Nossa cultura valoriza muito o ter. Assim, o “ser” fica mascarado pelas coisas que possuímos. Em busca do nosso eu nos deparamos com os refúgios do “ter” que pelo consumismo incontrolado nos completa superficial e momentaneamente.

Para que o sejamos transformadores de nossa realidade, precisamos nos ver numa totalidade. Compreender-se como uma pessoa que se relaciona com a realidade e mantém uma postura crítica diante dela. Aprender a ser é saber enfrentar-se na verdade de si.

O capítulo cinco nos leva a uma reflexão sobre discernir a vontade de Deus. Precisamos nos exercitar espiritualmente com o propósito de manter um diálogo com Deus. Esse diálogo nos leva a busca do discernimento, da verdadeira vontade de Deus para a nossa vida. Contudo, é preciso ter cuidado para que essa certeza não seja confundida com evidências ou até mesmo, projeções humanas, as quais definimos como sendo de Deus. Nossa busca deve ser contínua. Ainda que venhamos descobrir a vontade de Deus, aprender a discernir é viver na expectativa da novidade dos acontecimentos.

Enfim, o livro mostra com propriedade a importância de formar-se sem, contudo, nos colocarmos dentro de “fôrmas”. Cada capítulo exposto, mostra que nossa formação passa por um processo contínuo de aprendizagem e que está além da mera “informação”. O fato de hoje termos acesso a uma grande carga de informação através da internet, jornais, livros, revistas, não deve ser confundido com formação do indivíduo. O processo de formação não pode ser orientado pelo aprendizado que consiste apenas em absorção de conhecimento do que já está pronto, mas de uma experiência com a realidade, de uma vivência diária em busca de descobrir em si mesmo razão para a vida.

O livro é indicado para todos aqueles que vêem na Educação uma resposta para transformação da sociedade, pessoas que almejam formação e não apenas informação.

Renilda Antunes

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